Na cobertura do prédio administrativo do Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília, fica localizado o gabinete do ministro Marco Aurélio Mello, que há 22 anos ocupa uma das onze cadeiras na Suprema Corte.
Poucos minutos antes do início do quarto dia de julgamento do processo que ficou conhecido como Mensalão, Mello despachou com advogados de sua ampla sala, com jardim de inverno ao fundo e uma bonita vista para o Lago Paranoá.
Em conversa com Terra Magazine, o ministro se diz preocupado com a duração do julgamento, que começou na última quinta-feira (2) e, segundo ele, não terminará até o final de setembro.
Mello explica que a maior parte de seus colegas de STF devem ler votos longos, partindo da informação – já conhecida – de que o relator e o revisor do processo, ministros Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, respectivamente, prepararam votos de mais de mil páginas cada um.
“Teremos vários dias de sustentação oral dos advogados. E, para quem tem o voto pronto, pouco ou nada muda após ouvir a defesa”, explicou Marco Aurélio Mello. É por isso, diz ele, que sua estratégia será votar de “improviso”. Na verdade, ele usará uma espécie de “espelho”, com os principais pontos que deseja abordar, para não perder a linha de raciocínio.
Mello pretende falar por cinco minutos de cada um dos 38 réus, em média, e, dessa forma, deve votar em cerca de três horas, ou seja, menos de uma sessão. O ministro afirma que está anotando aspectos da defesa de todos os advogados que passam pelo plenário desde segunda-feira (6). “Para mim, que votarei de improviso, eles podem ter peso”, explica.
No entanto, o ministro garante que os colegas não têm conversado entre si sobre o julgamento. “Sabe por quê? Porque somos seres humanos e ficamos preocupados com a ótica dos outros. Sou contra reuniões prévias. Trabalho em um tribunal e não em um teatro. Para mim, cada qual deve julgar com a ciência e consciência que possui. Nada mais”.