A sem-cerimônia com que o PT desvirtua espaços institucionais atravessou fronteiras. O partido atualmente no poder transformou uma tradição de mais de seis décadas – a prerrogativa dada ao Brasil de abrir a assembleia geral da ONU – em mais um episódio da campanha eleitoral de Dilma Rousseff.
A presidente brasileira usou ontem a tribuna das Nações Unidas como palanque. Dos 24 minutos do discurso, a maior parte do tempo na tribuna foi empregada para fazer proselitismo sobre os 12 anos de governo do PT. Comodamente, Dilma absteve-se de prestar contas de seus ruinosos quatro anos de mandato…
A ida a Nova York foi explorada pelo marketing petista para gerar imagens de TV que a exibam com estofo internacional diante de incautos telespectadores no Brasil. A oportunidade na ONU é espaço institucional do qual os adversários da presidente da República, por razões óbvias, não dispõem. O PT não tem o menor escrúpulo em subvertê-lo.
Assim tem sido ao longo desta campanha, quando espaços oficiais têm sido usados rotineiramente para atos de campanha de Dilma. A cada fim de semana, por exemplo, o Palácio da Alvorada é usado para gravação de imagens em entrevistas que geram notícias nos telejornais do dia. Entrevistas e sabatinas também acontecem rotineiramente lá ou no Palácio do Planalto.
O excesso é tão gritante que até o insuspeito presidente do TSE já considerou “vantagem indevida” o uso de locais próprios do Estado “como um símbolo que a diferencia [Dilma] dos outros candidatos”, conforme afirmou o ministro José Antonio Dias Toffoli, ex-advogado do PT, recentemente. Dilma deu de ombros.
À audiência na ONU, a candidata-presidente apresentou números inflados de criação de empregos, duvidosas estatísticas sobre redução da pobreza no país e uma trajetória venturosa na queda da desigualdade que simplesmente deixou de ser verdadeira nos anos de governo dela.
Dilma também assegurou aos representantes dos 193 países-membro da ONU que seu governo empreende combate sem tréguas à corrupção. Quase simultaneamente, novas notícias sobre superfaturamento em obras da Petrobras saiam do forno do Tribunal de Contas da União aqui no Brasil…
Com a postura adotada ontem na Assembleia Geral da ONU, Dilma Rousseff apequenou o Brasil diante do mais importante fórum do concerto internacional das nações. Tal como um político de província, demonstrou seu desapreço pelas instituições e pelos ritos. A candidata-presidente fez política menor, mais ou menos à altura dela mesma.