As manifestações iniciadas pelo MPL ( Movimento Passe Livre ) fizeram vir à tona um sentimento de revolta e indignação que estava em estado latente nas profundezas da sociedade brasileira.
A bandeira da gratuidade do transporte coletivo, compreendido por todos como algo inexequível, não foi, com certeza, a razão das manifestações de milhares de pessoas em todo o país. Essa reivindicação colocada há anos por alguns agrupamentos – que se auto denominam de esquerda – em diversas campanhas eleitorais, nunca mobilizou ninguém e lhes rendeu parcos resultados eleitorais. Nem se pode creditar à recente oposição da população aos gastos com os estádios de futebol ( ou com as próximas olimpíadas ), que só era verbalizada por poucos. Nem, muito menos à Emenda 37, que poucos conhecem e entrou de carona no movimento, por interesses corporativos ( eu me oponho a ela ).
Não foram as deficiências do poder público na área de segurança, saúde e educação, que vêm de muito tempo e exigem ações de fôlego, de longo prazo, as razões das manifestações. Elas também não se originaram da repulsa à corrupção que, escancarada em 2004 quando o sub chefe da Casa Civil da Presidência, Waldomiro Diniz, foi filmado negociando uma propina com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, teve a sua continuidade com o episódio do mensalão e sequência por anos afora abatendo dezenas de altas autoridades da República comandada por Lula e Dilma. Nem à pasmaceira do nosso sistema judiciário que, até agora, não colocou ninguém na cadeia. Nenhuma dessas razões, isoladamente, explicam as manifestações. Todas elas, somadas, sim!
Porque essa revolta e essa indignação que se vê agora não explodiu antes? Porque Lula e Dilma foram protegidos por uma couraça de bons resultados econômicos: inflação contida, diminuição do desemprego, crédito abundante e barato e aumentos salariais satisfatórios. Poucos estavam dispostos a ouvir aqueles que chamavam a atenção para a insustentabilidade de resultados no curto prazo que iriam se transformar em graves problemas no médio e no longo prazo.
O quadro mudou. A inflação, em especial o custo dos alimentos deu um salto astronômico. Após o tomate, veio o feijão, o arroz, o leite, e ninguém sabe onde vai parar. O crescimento do nível de emprego deixou de existir. O volume de crédito diminuiu e os juros aumentaram. Os salários tendem apenas à recuperação da inflação, quando muito.
A couraça que protegeu Lula e Dilma, que lhes deu vitórias nas urnas, está se rompendo e não serve mais para protegê-los. Os inatingíveis passaram a ser atingidos pela revolta e indignação que estavam encruados na alma dos brasileiros. Expectativas e esperanças, como se o futuro fosse o paraíso da terra, começaram a se mostrar produto da mentira e da falsidade. “Eppur si muove”.
Até agora apenas uma parcela da população mostrou a sua revolta e sua indignação. O povo mais simples pouco se manifestou. Os terremotos e as erupções ainda virão, mais fortes, se a presidente for incapaz de encontrar ações que minimizem os estragos que ela e seu padrinho antecessor fizeram.
Os ditos movimentos de esquerda, base do MPL, já se assustaram e surpresos com as bandeiras levantadas, algumas que qualificam de conservadoras, como se conservadores não pudessem estar no meio do povo com os mesmos sentimentos de revolta e indignação, ameaçam deixar as manifestações. Não gostaram do som que saiu da garganta do povo. Pensavam em instrumentalizá-las como tem sido a sua maneira de ser, mas foram ultrapassados pelo autêntico sentimento de milhões que durante mais de 10 anos se calaram por não saberem quem eram os homens e mulheres que os presidiam.
A nós, democratas, cabe canalizar todo esse sentimento para propor medidas que, com respeito à Constituição, promovam o desenvolvimento do país e possam atender às necessidades da população.
Uma declaração: não sou a favor do movimento “fora Dilma”. Não aceito qualquer via que não seja a via democrática, o respeito à Constituição. Nem eu, nem o PSDB.


