Bolsas de valores costumam ser associadas apenas ao universo de investidores e especuladores que querem ganhar dinheiro rápido. Nada mais falso. São, na realidade, um bom termômetro da confiança de que a economia de um país desfruta e servem para antever rumos. Neste sentido, o desempenho da nossa bolsa, a Bovespa, tem sido de dar medo.
A bolsa brasileira é uma das três com pior desempenho em todo o mundo neste ano. Isso tem lá seus significados: sugere que o Brasil tornou-se um país pouco atraente para quem quer investir e pouco confiável aos olhos dos empreendedores. Cada vez mais, quem tem dinheiro para empreender e investir parece querer manter distância daqui.
Depois de cinco quedas seguidas, ontem o Ibovespa subiu um pouco. Mesmo assim, desde o pregão de 2 de janeiro acumula baixa de 8,66%. Em todo o mundo, apenas os mercados acionários da Jamaica e do Chipre saem-se pior, segundo o Brasil Econômico. “A ingerência política, o receio dos estrangeiros, a fuga das pessoas físicas, além da expectativa de aumento da taxa básica de juro têm penalizado a bolsa de valores brasileira”, analisa o jornal.
Na outra ponta, a bolsa japonesa sobe 20% no ano e a da Venezuela – talvez por alguma esperança dos investidores de que, sem Hugo Chávez, as coisas por lá melhorem – lidera os ganhos em todo o mundo, com 31,5% neste 2013. É fácil notar que, também nesta seara, o Brasil tornou-se um patinho feio.
Quando o otimismo com determinado país vai em alta, é comum o mercado acionário acompanhar o clima favorável e subir junto. O mesmo se dá na direção contrária: os mergulhos das bolsas indicam quando o país é olhado com desconfiança. Quando o Brasil se ombreia com ilhas como o conflagrado Chipre, alguma coisa vai muito mal.
Em extensa reportagem publicada na segunda-feira, o Financial Times mostra que o mundo passou a ver o Brasil com receio da crescente intervenção do governo na economia e das medidas discricionárias que beneficiam alguns setores em detrimento de outros, distorcendo o ambiente econômico como um todo.
Assusta a miríade de ações tomadas por Brasília para corrigir rumos e tentar remendar uma economia que, estruturalmente, apresenta sérias dificuldades para crescer. “A infinidade de mudanças criou tanta incerteza que investidores nacionais e gestores de fundos estrangeiros começaram a tirar seu dinheiro”, diz o jornal britânico.
Quem quer que se aventure a investir num determinado país conta com algumas pré-condições mínimas. Entre elas estão transparência nas decisões e estabilidade de regras. É tudo o que não tem sido visto no Brasil nos últimos meses.
Intervenções intempestivas e muitas vezes atabalhoadas tomadas pelo governo petista têm posto abaixo a perspectiva de setores inteiros da nossa economia, comprometendo investimentos e, como consequência, a geração de novos empregos e oportunidades de trabalho.
Os exemplos vão do setor elétrico, hoje absolutamente desequilibrado, ao de exploração de petróleo, em que o mau desempenho da Petrobras acaba constrangendo os demais concorrentes. E passa pelos setores regulados, como a telefonia, que vira e mexe são alvos de espasmos punitivos do governo – até justificáveis no conteúdo, mas inadequados na forma.
Hostilizar o investimento privado não parece ser a melhor alternativa para um governo que tem uma carteira de empreendimentos – principalmente em infraestrutura – prontos para serem concedidos, e dos quais a economia brasileira depende bastante para conseguir soerguer-se.
A postura adotada pelo governo brasileiro, também marcada pela visão ideológica que a presidente da República tem da economia, não colabora para que o país reconquiste a confiança de quem pretende investir aqui. Enquanto as ações das nossas empresas não inspirarem o apetite dos investidores, muito provavelmente o Brasil não sairá do lugar. E isso não é especulação.