Não há como negar razão a Joaquim Levy quando o ministro afirma que a presidente Dilma Rousseff age “não da maneira mais fácil, não da maneira mais efetiva”. A atual gestão é um amontoado de idas e vindas, em que, na maior parte do tempo, o governo de agora está desfazendo o que o anterior fez. Os exemplos se espalham por todas as áreas.
Na educação, é o desmonte do Fies, a revisão do programa de creches que não saem do chão, os atrasos que congelam o Pronatec. Todos programas que serviram muito bem à propaganda eleitoral petista, mas agora não param mais em pé, com repasses de verbas atrasados, vagas fechadas, cursos suspensos e obras paradas.
Na economia, praticamente toda a política ruinosa adotada desde 2011 está sendo agora purgada. Não sem antes deixar esqueletos pelo caminho, como os que assombram o maltratado balanço do BNDES, e pôr toda a atividade econômica na geladeira, com a perspectiva sombria da recessão e do desemprego.
Na infraestrutura, quase nada deu certo. O programa de concessões – apontado como tábua de salvação do “ajuste econômico” agora vendido pela equipe de Levy – está sendo todo remontado, depois de produzir quase nenhum resultado desde que foi lançado, três anos atrás. Parece que estamos assistindo a prédios ainda em construção desabando…
É diante desta realidade que o ministro da Fazenda tem se especializado em declarações desastradas, ainda que sinceras. Condenou a “brincadeira cara” promovida com dinheiro público nos últimos anos ao patrocinar a “grosseira” desoneração de empresas, que não resultou em quase nada em termos de aumento de produção e emprego.
Também classificou como “completamente ultrapassado” o modelo adotado para concessão de seguro-desemprego. A alternativa proposta por ele tramita no Congresso e, caso estivesse em vigor no ano passado, teria significado que 64% dos que obtiveram o benefício não teriam sido contemplados, de acordo com o Dieese.
Mas Levy consegue ser generoso demais com sua chefe ao afirmar que ela tem um “genuíno desejo de fazer as coisas certas”. Convenhamos: de boas intenções o inferno está cheio. Genuinamente crédula de que fazia o certo, Dilma sepultou as perspectivas do país ao jogar-nos no buraco nos últimos quatro anos.
Joaquim Levy acaba metendo pés pelas mãos porque se vê obrigado a fazer mais do que um ministro em condições normais faria.
Tem que se desdobrar na Fazenda para restaurar o equilíbrio que Dilma 1 implodiu. Tem que fazer as vezes de articulador político num governo que não se entende nem com sua base parlamentar. E ainda tem que ser porta-voz de uma gestão que carece de liderança. Não é a maneira mais efetiva, muito menos a mais fácil, de fazer as coisas.