“A oposição precisa aprender que assuntos técnicos requerem uma abordagem diferente do espetáculo de uma CPI em ano eleitoral”. Assim, o ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, termina o seu artigo na Folha de domingo. De fato, assuntos dessa natureza devem ser tratados com zelo e responsabilidade, sobretudo por quem dirigiu a empresa.
Na mesma Folha, Ildo Sauer, ex-diretor da estatal (2003-2007), ajuda a explicar o pânico petista com uma CPI da Petrobras. Após atestar o baixo desempenho da Diretoria Executiva, Sauer responsabiliza o Conselho de Administração, então presidido por Dilma, que autorizou a compra de uma quase sucata, numa operação nefasta e ruinosa, que nenhuma outra petroleira do mundo faria. Não impunemente.
“Em Abreu e Lima (PE), o investimento já é de U$$ 20 bilhões, quando pelo padrão internacional, para refinarias de complexidade semelhante, não deveria exceder U$$ 7 bilhões. Paradigma semelhante acompanha o Comperj”, diz Sauer. Ele também questiona o sobrepreço do gasoduto Urucu-Manaus e a operação desmanche da Petrobras na África, no México e na Argentina.
Ildo Sauer conclui: “O Conselho de Administração deveria explicar isso ao acionista controlador, o povo, e ao Congresso Nacional”. Mas há como explicar que a empresa tenha perdido dois terços do seu valor nos últimos anos? Que, após a patriotada da autossuficiência, passou a patinar na produção de petróleo? Por isso Lula já deixou claro: uma CPI como esta, nem pensar.
Obra iniciada mas não concluída me lembra o saudoso Mário Covas. Ele dizia que aplicar recursos públicos em projetos sem data para conclusão, é uma forma de favorecer a corrupção.
Para piorar, o governo tem reservado à Petrobras uma política nefasta de preços administrados, vendendo combustíveis abaixo do preço de custo. Mesmo Luiz Gonzaga Belluzzo, economista “menos crítico ao governo”, criticou o represamento da inflação em entrevista ao Estadão. “Quanto mais você demorar para ajustar, pior… Essa ideia de segurar as tarifas foi aplicada nos anos 70 e deu no que deu”.
Os mal feitos deste governo tem proporções nunca antes vistas neste país. Os desvios têm custos inestimáveis. O tutor da presidente pede que ela vá para a ofensiva. Vamos esperar que seja para esclarecer, mudar rumos e não seguir na construção de um desastre movido pelo engodo e a demagogia, dependente exclusivamente de um projeto de poder em que tudo vale.