A implementação do Plano Real provocou alterações significativas na macroeconomia e na credibilidade do Brasil no exterior, além de gerar transformações no cotidiano dos brasileiros. Até o Real, as dispensas e os freezers eram essenciais nas casas para armazenar estoques de comida nos tempos da hiperinflação. Mas com o plano, deixaram de ser fundamentais.
Em entrevista o presidente do Centro Brasileiro de Infra Estrutura (CBIE), o economista Adriano Pires, alertou que o PT por sua inabilidade pode desconstruir as bases do Plano Real por meio do intervencionismo excessivo na economia e uso político de estatais.
“Com o Plano Real, não tivemos mais que produzir grandes estoques para garantir o dia de amanhã. Os brasileiros passaram a ter condições de fazer um planejamento mais sólido de seus gastos pessoais”, afirmou Pires. Em entrevista, o economista destacou os benefícios gerados pelo Plano Real e também as falhas cometidas pelos governos do PT na gestão da economia.
PSDB: O que diferenciou o Real de outros planos lançados anteriormente, também com o objetivo de combater a inflação, mas que não foram bem-sucedidos?
Adriano Pires: São três os fatores que explicam o sucesso do Real e o diferenciam dos outros. O primeiro é a credibilidade de Fernando Henrique Cardoso, que liderou o projeto. O segundo, a qualidade técnica da equipe envolvida no plano. E, em terceiro, o amplo apoio da população. Não há plano que prospere sem que a população esteja ao seu lado – e, no caso do Real, isso ocorreu porque a sociedade percebeu que existia uma equipe em condições de tocar o projeto. Foi uma somatória de três fatores que não estiveram presentes nos outros planos.
PSDB: A população pobre foi a principal beneficiada com a implementação do Real? Se sim, por quê?
AP: Sem dúvida. Nos tempos de hiperinflação, o dinheiro deixava de ter valor a cada dia, e os preços não paravam de subir. As classes média e alta eram prejudicadas por isso, mas elas contavam com alguma estrutura de proteção, como as aplicações financeiras. Os pobres não dispunham disso. Eles tinham que receber o salário e correr para transformá-lo em alimentos, remédios e outros artigos de primeira necessidade. Eram, por isso, os mais afetados pela hiperinflação – e, por extensão, quem mais ganhou com o fim do problema.
PSDB: Como o senhor avalia que a eliminação da hiperinflação foi essencial para que o Brasil obtivesse credibilidade no exterior?
AP: Um país que não tem estabilidade econômica – e não persegue metas de superávit, de inflação – não tem condições de convidar um investidor para atuar dentro de seu mercado. Como chamar alguém para comprar um ativo, ou obter uma concessão, se de uma hora para outra o dinheiro pode deixar de ter valor? Se o governo abre mão de buscar o controle? O real acabou com esse cenário de incertezas.
PSDB: Após 20 anos de sua implantação, qual o principal legado do Plano Real?
AP: Ampliar a credibilidade do Brasil pelo mundo e resgatar a autoestima dos brasileiros. Passamos a ser um país respeitado e deixamos de ter vergonha de dizermos que somos do Brasil. É o mais interessante de tudo o que aconteceu.
PSDB: Quando o PT assumiu a Presidência da República em 2003, com Luiz Inácio Lula da Silva, optou por não mexer nas principais estruturas da economia deixadas por Fernando Henrique Cardoso. Mas hoje vemos um cenário complexo, com a inflação dando mostras de retorno e o crescimento do PIB em níveis baixos. Quais foram as principais falhas do PT?
AP: No primeiro mandato de Lula, houve um respeito as ações de FHC, o que foi bom para a economia. Mas a partir do segundo – e isso se intensificou na gestão de Dilma Rousseff – tivemos a volta de problemas que eu acreditava que estavam no passado, como o intervencionismo excessivo na economia e o uso político de estatais. Perdeu-se a credibilidade construída durante a gestão FHC, e os resultados disso estão aparecendo.