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Por uma cidade mais feliz

Por sua genialidade, Monteiro Lobato povoa a imaginação infantil. Poucos se recordam de que ele foi também autor de livros para adultos, como “Cidades Mortas”, em que disseca a decadência de comunidades do Vale do Paraíba paulista, decorrente da derrocada da lavoura cafeeira na região. O livro é de 1919.

De lá para cá, o panorama mudou. Hoje as cidades paulistas são vivas, com economias locais orientadas por agronegócio e parques industriais diversificados. Essas cidades exigem do administrador uma visão que corrija os erros do passado, cuide do presente e prepare o futuro.

A capital do Estado exacerba, pelo seu gigantismo e pela pujança, as exigências da modernidade. A atual administração, contudo, descuida-se da realidade da metrópole. São Paulo é a maior cidade da América Latina e a sétima maior do mundo. Merece uma administração à altura de seu povo.

As desventuras diárias são imensas -trânsito infernal, sujeira, pichações e dependentes químicos, abandono de áreas prioritárias como saúde, educação, segurança e proteção às áreas de risco.

Pesquisa do Ibope mostra que 68% dos moradores gostariam de mudar de cidade. Trata-se de um índice alto demais para uma metrópole que exibe os títulos de capital cultural e econômica da América Latina.

Saúde e educação lideram o rol de prioridades. Não basta construir escolas: são necessários os aparatos, sobretudo em material tecnológico e humano, para que crianças e jovens tenham ensino de qualidade e ampliem suas oportunidades de trabalho ao saírem da escola.

Não basta expandir as redes hospitalares e de atendimento pelas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). É necessário reequipar os estabelecimentos e ter atendimento eficiente 24 horas por dia.

É urgente atenuar os transtornos do trânsito, os alagamentos, os desabamentos de casas em áreas de risco, situações que poderiam ser evitadas se São Paulo fosse administrada com gestão eficiente e rigor técnico de acompanhamento.

São Paulo tem urgência de mudanças radicais no conceito de administração pública, adotando o tripé: descentralização/inovação/eficiência. Princípios esquecidos na atual gestão da prefeitura.

É preciso que se dê o verdadeiro sentido à causa pública -com moralidade, planejamento, profissionalismo e senso de urgência para atender os habitantes da cidade.

Descentralizar a gestão exige competência em seu vasto universo. Por isso defendemos o fortalecimento das prefeituras regionais, com maior alocação de recursos e atribuições, tornando-as polos de atratividade e serviços, com gestores definidos por competência, ficha limpa e comprometimento com a região.

Inovação é a busca continuada da melhor prática de gestão em favor do interesse público, como transformar São Paulo na Cidade Digital, revolução tecnológica que torna os serviços municipais mais rápidos e eficientes. São Paulo precisa modernizar a máquina, usar a tecnologia de modo intensivo e elevar a qualidade dos
serviços prestados.

E aos dois primeiros princípios se soma a eficiência, objetivo maior dos gestores públicos comprometidos com o bem-estar da população. Até hoje descosturada, a administração pública deve unificar seus procedimentos em busca de eficácia na prestação de serviços.

Os habitantes da cidade sabem onde o calo aperta. Cabe à administração honrar o trato dos recursos recolhidos de impostos de forma eficiente e responsável. São
Paulo merece ser uma cidade mais feliz.

*Publicado pelo jornal Folha de S. Paulo em 21.06.2016

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