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Quando o altar vira palanque

Carlos Roberto de Campos

O caos vivido em Guarulhos no domingo, na inauguração da Cidade Mundial, pela Igreja Mundial, tem um único culpado: a Prefeitura. Não é difícil chegar a essa conclusão. A organização religiosa só adquiriu a área assim como promoveu o megaevento com o aval da administração municipal. Ninguém em sã consciência faria tão grande investimento se não soubesse que encontraria facilidades no momento de usufruí-lo.

A maior prova da complacência e do desrespeito à população pode ser vista no altar da Cidade Mundial, que – em alguns momentos – mais parecia um grande palanque eleitoral. Enquanto milhares de guarulhenses amargavam os transtornos causados pela falta de planejamento e seriedade, o prefeito Sebastião Almeida (PT) fazia discursos políticos ao lado do bispo responsável pela igreja.

Com toda a cara de pau que lhe é peculiar, entregou ao bispo  a chave de Guarulhos, uma bandeira do município e, pasmem, o alvará de funcionamento daquele templo. Qualquer empresário que quer se instalar no município ou transferir seus negócios para cá sabe como é difícil obter um documento desses. Há uma série de entraves burocráticos que, muitas vezes, até inibem que novos investimentos e empregos sejam gerados aqui.

No entanto, a igreja obteve o alvará de funcionamento. Como revela a imprensa, apesar da complexidade e do imenso número de pessoas que se aglomeram no galpão, nem o Corpo de Bombeiros foi chamado para realizar uma vistoria e aprovar o empreendimento. Nem um estudo de impacto viário foi realizado.

Houve dificuldade dos serviços de saúde para prestarem socorro às pessoas que passaram mal dentro da igreja. Tanto era o trânsito no entorno que nem as ambulâncias conseguiam chegar ou sair do local. Fora as pessoas de bem, que não conseguiram se deslocar dentro da cidade, impedidas pelo trânsito parado na avenida Monteiro Lobato, nas rodovias Dutra, Ayrton Senna e Hélio Smidt. Não se tem uma dimensão exata, mas centenas de passageiros perderam seus vôos no Aeroporto Internacional, porque ficaram presas nos congestionamentos, na maior porta de entrada e saída do Brasil.

Tudo isso ocorreu para que o prefeito pudesse usar o altar como palanque eleitoral. Aliás, essa é uma prática comum, principalmente entre políticos incompetentes, que usam do vale-tudo para ganhar votos. Infelizmente, essa não é uma cena nova. E que deve se repetir com grande frequência, neste ano, em que muita gente tentará mover céus e terras para não perder o empreguinho.

Carlos Roberto de Campos

Empresário, suplente de deputado federal e presidente do Diretório Municipal do PSDB, escreve às sextas-feiras.

 

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