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Questão de confiança

Lá se vão mais de dois meses desde a incompreendida declaração da presidente Dilma Rousseff em Durban, na África do Sul, sobre suas discordâncias com o receituário econômico que “mata o doente ao invés de curar a doença”.

Convenhamos, de lá para cá, ministrando os mesmos remédios de sempre, a situação geral do enfermo só se agravou.

A divulgação dos resultados do PIB no primeiro trimestre tornou indisfarçável o baixo desempenho da Fazenda na condução da economia. O consumo, que até então era o motor da expansão, arrefeceu.

As famílias estão no limite do endividamento, o crédito encolhe e as contas externas se deterioram. O investimento permanece aquém do esperado. A indústria quase parou.

Não é segredo para ninguém que a inflação só ficou dentro da meta à base de doping, das desonerações tributárias à postergação nos reajustes de tarifas públicas.

O conjunto da obra tem levantado dúvidas sobre a capacidade do governo de implementar uma agenda efetiva de dinamização da economia. Afinal, a estratégia até aqui foi empurrar com a barriga.

O fato é que, com a antecipação da campanha eleitoral pelo ex-presidente Lula, o governo entrou na onda, se cobriu de urucum e foi à guerra.

Ao invés da análise fria e realista dos indicadores econômicos, o Planalto só conseguia enxergar afrontas políticas no “pessimismo” da oposição e dos jornais. A dúvida agora é se reeleição e ajuste são compatíveis.

Foram tantas as sinalizações equivocadas do governo que o primeiro desafio é restabelecer a confiança. Basta lembrar Arno Augustin, presidente do Tesouro Nacional, que há cerca de um mês anunciou que o ritmo da economia é que definiria a meta fiscal.

O governo vai elevar os gastos públicos e autorizar mais endividamento dos estados mesmo com a escalada da inflação? É por aí que vamos?

José Aníbal é economista, deputado federal licenciado (PSDB-SP) e secretário de Energia de São Paulo.

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