Sorteado relator do inquérito do mensalão em 2005, o ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, votará a favor da condenação de réus acusados de envolvimento no esquema de corrupção mais documentado da história da política nacional.
Ao longo do processo, o relator deu demonstrações de que não traçará um caminho suave para os acusados de participação no mensalão. Ele foi rígido ao despachar os pedidos de réus, reclamou de supostas tentativas de advogados de atrapalhar o processo e chegou a dizer que havia chicana (tramoia).
Além da quantidade de réus e testemunhas, a ação do mensalão teve sua tramitação um pouco alterada em decorrência da saúde de Barbosa. Alegando problemas crônicos na coluna e depois no quadril, o relator afastou-se várias vezes do tribunal.
Aos 57 anos de idade, ele tirou licenças médicas durante meses, levantando até um debate sobre se teria ou não condições de conduzir o processo e outras ações que estavam sob a sua responsabilidade. Em uma dessas licenças, foi fotografado pela reportagem do Estado em um famoso bar de Brasília. Também foi visto em eventos sociais nesse período.
Cronograma especial. Ontem, ao chegar ao STF, Barbosa disse que sua saúde está ótima. Demonstrou ter se preparado para o julgamento. Apareceu inclusive com um microfone utilizado por popstars em shows de rock, preso à cabeça. Por causa dos alegados problemas ortopédicos, ele costuma se movimentar muito em julgamento, sentando e levantando diversas vezes.
Para garantir que o relator conseguirá acompanhar todo o julgamento, o Supremo resolveu estabelecer um cronograma especial. As sessões terão cinco horas de duração. No início, serão realizadas de segunda a sexta-feira. Depois, três vezes por semana. A expectativa é de que o veredicto saia em setembro.
Primeiro negro a ocupar uma cadeira de ministro do STF, Barbosa assumirá em novembro a presidência do tribunal, substituindo Carlos Ayres Britto, que terá de deixar o cargo ao completar 70 anos de idade – e, por esse motivo, terá de se aposentar compulsoriamente.
Convivência. Em sua futura presidência, um dos principais aspectos deverá ser a convivência com os outros ministros de tribunal. Barbosa já se desentendeu com colegas. Trocou farpas em público com os ministros Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello e Cezar Peluso.
O mais recente desentendimento ocorreu em abril deste ano com Peluso, que tinha acabado de deixar a presidência da Corte. Após ter sido chamado de inseguro por Peluso, Barbosa usou palavras como “ridículo”, “brega”, “caipira”, “corporativo”, “desleal”, “tirano” e “pequeno” para descrever o colega. Ele também acusou o ex-presidente de tentar manipular resultados de julgamentos.
Com Gilmar Mendes, o tom também mudou. O bate-boca ocorreu no plenário do STF. Barbosa acusou o colega de destruir a imagem da Justiça brasileira. E completou: “Vossa Excelência, quando se dirige a mim, não está falando com os seus capangas de Mato Grosso, ministro Gilmar. Respeite”. Diante da gravidade do episódio, a maioria dos ministros se reuniu e ao fim foi divulgada a seguinte nota: “Os ministros do Supremo Tribunal Federal que subscrevem esta nota, reunidos após a sessão plenária de 22 de abril de 2009, reafirmam a confiança e o respeito ao senhor ministro Gilmar Mendes na sua atuação institucional como presidente do Supremo, lamentando o episódio ocorrido nesta data”.