José Aníbal
O setor energético é tido pela Organização das Nações Unidas como um dos pilares do desenvolvimento sustentável e da erradicação da pobreza. É fácil entender a razão.
Cerca de três bilhões de pessoas no mundo ainda dependem da biomassa tradicional e do carvão para cozinhar e se aquecer, e algo em torno de um bilhão de pessoas não têm acesso à energia elétrica.
Como 87% da matriz energética mundial é formado por fontes não renováveis e 70% da eletricidade advêm de térmicas movidas a combustíveis fósseis, o setor energético é responsável por 60% das emissões de gases de efeito estufa.
Para piorar, a crise financeira internacional vem tornando os custos e as condições de financiamento em infraestrutura nos países pobres cada vez mais restritivos.
Serve de exemplo a África subsaariana, onde 70% das pessoas não têm acesso à eletricidade. Segundo a Agência Internacional de Energia, juntos, estes 48 países produzem menos energia do que a Espanha.
Diminuir este enorme déficit energético sem recorrer a fontes não renováveis é o grande desafio enfrentado pela comunidade internacional na área de energia neste momento.
Neste cenário, o modelo de desenvolvimento de São Paulo sai fortalecido da Rio+20. Nossa arrojada Política Estadual de Mudanças Climáticas, que prevê um corte de 20% nas emissões de gases de efeito estufa até 2020, foi bastante elogiada, bem como a meta do Plano Paulista de Energia, que visa elevar a participação das renováveis de 55% – valor que já faz de nossa matriz uma das mais limpas do mundo – para 69%, em menos de 10 anos.
Nossa rede de pesquisa e desenvolvimento da cadeia da cana-de-açúcar fez com que o ministro do Meio Ambiente italiano, Corrado Clini, descrevesse São Paulo como o “laboratório mundial das tecnologias em bioenergia”.
Recebemos diversas solicitações por colaboração, capacitação profissional e transferência de tecnologia na cadeia energética da cana, sobretudo de países africanos, que possuem um enorme potencial e baixa capacidade de investimento.
Ao mesmo tempo, a centralidade do viés socioambiental da Estratégia para o Desenvolvimento Sustentável do estado de São Paulo, que prevê suprir com cobertura vegetal 20% do território paulista, erradicar a pobreza extrema até 2014 e universalizar o acesso ao saneamento básico, provendo abastecimento de água potável, coleta e tratamento de esgoto, mostra como a integração setorial das políticas públicas é fundamental para um desenvolvimento sustentável e socialmente responsável.
A dificuldade em construir um consenso global sobre o modelo de desenvolvimento para o século 21 não diminui a importância da Rio+20. De fato, o documento final poderia ser mais ambicioso, mas ele reflete justamente a falta de comprometimento e de senso de urgência dos governos que, em grande parte, ainda se orientam por interesses imediatistas.
Porém, o mais importante foi conquistado: o apelo ambiental tem ampla adesão social e as soluções sustentáveis estão todas aí. Os eleitores saberão escolher líderes mais ajustados as suas expectativas.