Não faz nem uma semana que acabou. Mas o estado de estupor que marcou os dias de Copa do Mundo no Brasil já voltou a dar lugar à constatação cotidiana de que viver no país está cada vez mais difícil. Acumulam-se indicadores ruins, numa seleção de fracassos digna de Luiz Felipe Scolari.
A mistura é intragável e pode ser sintetizada numa espécie de 7 x 1 econômico: inflação caminhando para a casa dos 7% ao ano e crescimento econômico minguando para perto de 1%, marca só vista na história recente do país durante o mandato, encurtado pela corrupção, de Fernando Collor de Mello.
Até agora, o governo se dizia protegido das críticas, sob a alegação de que o mercado de trabalho continuava intacto. O argumento já não serve mais. O ritmo de geração de empregos no país cai mês após mês, anotando recordes negativos que remontam a padrões de épocas de crise no século passado.
Assim foi, novamente, em junho. Segundo o Caged, foram criadas apenas 25,4 mil novas vagas de trabalho, no pior resultado para o mês desde 1998. Na comparação com junho de 2013, a queda beira 80%. Só a indústria, cada vez mais enferrujada, fechou 28,5 mil postos no mês; a construção civil, 12 mil e o comércio, 7 mil.
Até na comparação de Dilma Rousseff com ela mesma, o resultado é negativo: o ritmo atual de abertura de empregos representa apenas metade do que foi nos três primeiros anos da atual gestão. O que já era ruim piorou bastante. O semestre fecha com a criação de 588 mil vagas, a menor marca para o período desde 2008.
Outros resultados conhecidos recentemente sugerem que o Brasil está tão paradão quanto esteve a zaga da seleção de Felipão nos jogos decisivos da Copa. Antes dinâmico, o setor de serviços já não cresce. Da indústria, nem é necessário falar, embora o poço em que o setor submerge pareça cada vez mais profundo.
Quando os resultados do PIB brasileiro no segundo trimestre vierem a público pelo IBGE, no fim de agosto, é possível que a economia nacional seja diagnosticada como tecnicamente em recessão. Já se dá quase como certo que haverá queda no indicador entre abril e junho, levando junto, estatisticamente, o primeiro trimestre.
Calculada em termos per capita, a soma das riquezas nacionais deve ficar estagnada em 2014. Na média, segundo a MB Associados, o avanço deste indicador durante o governo Dilma deverá ser de mero 0,8% ao ano. No ritmo atual, levaríamos 87 anos para dobrar nossa renda média, algo que a China, onde a média atual é de 7,1% anuais, conseguiria o mesmo resultado em apenas uma década.
Os demais indicadores econômicos de junho – e também os de julho – devem vir ainda mais fracos, porque o país praticamente parou – e, em muitos aspectos, foi intencionalmente parado pelo governo, com feriados e medidas afins – para a Copa do Mundo. Estima-se que a indústria tenha caído 8,6% em junho e 6,5% em julho sobre os mesmos meses de 2013, segundo O Globo.
Em muitos aspectos – como na indústria, que hoje produz tanto quanto em 2008 – estamos hoje piores do que estávamos cinco anos atrás, quando o governo petista começou a implantar sua decantada “nova matriz econômica”, que vem nos conduzindo solenemente para o brejo.
Para completar o quadro, os resultados fiscais estão, para usar termo caro à presidente da República, “uma belezura”. O déficit de maio foi o maior registrado no mês em toda a história das contas públicas do país: R$ 11 bilhões. A marca dos cinco primeiros meses do ano é a pior desde 2002.
Mas a debacle não acontece só na economia. Até em áreas em que éramos considerados excelência mundial no passado agora pioramos. É o que está acontecendo, por exemplo, com a disseminação da aids no país: entre 2005 e 2013, o Brasil registrou aumento de 11% do número de infecções por HIV, enquanto no mundo houve queda de 27,6% no mesmo período.
Tinha razão a presidente da República quando afirmou, em julho do ano passado, que seu governo tem “padrão Felipão”. Assim como o agora ex-técnico levou o escrete canarinho a uma Copa catastrófica, a petista está conduzindo o país a um beco sem saída. As pesquisas de intenção de voto recém-publicadas nos dão alívio: tal como Scolari, está chegando o momento de Dilma Rousseff pedir o boné.
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