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Semáforos:entre o blecaute e o amarelo piscante

As chuvas que habitualmente caem com mais intensidade sobre São Paulo no começo do ano elucidam outro déficit da cidade: a precariedade dos semáforos. O que não deixa de ser irônico, pois justamente eles, os semáforos, deveriam fazer o caminho contrário, ajudando a manter a ordem do tráfego da metrópole. Não é o que acontece.

Para justificar o problema, o prefeito Fernando Haddad, como de hábito, critica a gestão de seu antecessor Gilberto Kassab, dizendo que herdou uma rede semafórica sucateada. Fato é: os semáforos de São Paulo sofrem, em média, 64 panes diariamente. Até o dia 20 de fevereiro, foram mais de 3,2 mil problemas registrados nos mais de 6,1 mil cruzamentos semaforizados da capital.

As causas que levam a tal quadro, segundo especialistas, vão desde quedas de árvores sobre a fiação elétrica, outro caos rotineiro, passando por raios que queimam placas dos controladores semafóricos e chegando a alagamentos das caixas de cabos que alimentam os aparelhos. Culpa-se também a falta de peças para troca e o pequeno número de profissionais que fazem os consertos.

O desacordo de informações entre a Prefeitura e a AES Eletropaulo sobre a instalação de no-breaks, equipamento que evita falhas nos semáforos, complica ainda mais o quadro. A primeira afirma que a empresa deveria ter viabilizado o funcionamento de 200 aparelhos, mas limitou-se a 20. Esta, claro, nega e diz ter cumprido o compromisso. Diante da situação escabrosa, o prefeito Haddad, pressionado, prometeu investir R$ 100 milhões para renovar os semáforos. Quando tal promessa sairá do papel não se sabe.

Jilmar Tatto, secretário de Transportes, chegou a dizer que solicitaria audiência com o presidente da Eletropaulo para “fazer ajustes e cada um fazer sua parte para amenizar o problema”. O resultado de tal audiência – e se ela de fato ocorreu – nunca se soube. Tatto, então, foi a Londres, conhecer a tecnologia semafórica da cidade e ver de perto o modelo que pretende importar para São Paulo. Ao que respondeu Silvio Médici, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Engenharia de Trânsito, em entrevista ao jornal O Estado de São Paulo: “a tecnologia está disponível no Brasil. Não precisa importar, é só investir”.

Enquanto planos mirabolantes são elaborados pelo PT, a solução mostra-se mais viável com a aplicação do dinheiro arrecadado com as multas de trânsito – cerca de R$ 800 milhões só em 2012 – para melhorar a qualidade dos nossos aparelhos. Até que a Prefeitura reveja sua estratégia, resta ao cidadão se desdobrar para chegar aos seus compromissos no horário, enquanto rearranja suas rotas e torce para não cruzar com um amarelo piscante, que pode permanecer assim até por três dias seguidos, como se viu neste verão.

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