A entrevista foi depois da descoberta de desvios de quase meio bilhão de reais numa pasta em que, segundo o ministro-chefe da Controladoria-Geral da União, Jorge Hage, irregularidades já tinham sido apontadas em auditorias de 2009, 2010, 2011 e 2012.
Quando ainda não havia gente na rua e o governo Dilma era todo promessa e expectativa, a marquetagem palaciana não tardou em criar a fábula da faxina.
Na época, a intransigência com “malfeitos” ganhou ares de expiação cívica, mesmo que o objeto da limpeza fosse a estrutura herdada de Lula.
Hoje, pressionado pelas fissuras na base parlamentar e com a economia em ponto morto, o Planalto parece ter aposentado de vez a vassoura e o esfregão.
A faxina está suspensa. Ao invés do lixo, o fundo do tapete.
A firmeza de compromisso não é, definitivamente, uma marca desse governo. O combinado raramente é cumprido. Mudou o vento, mudou o discurso do governo. Para tudo se tem uma desculpa e um culpado. E nada anda.
Os resultados que o governo tem para mostrar são ruins. Basta fazer um teste: as obras que iriam resultar em prosperidade e dinamismo, prometidas na última campanha eleitoral, estão todas atrasadas ou abandonadas. As concessões, travadas.
As pessoas percebem que a vida cotidiana ficou mais instável, seja nos preços ou na insegurança diária A percepção de que o dinheiro público quase sempre foi mal empregado é constante. A desconfiança com as instituições generalizou-se.
Daí, quando o chefe da CGU diz que as entidades que desviaram dinheiro público são “carimbadas, velhas conhecidas da nossa auditoria”, e o governo silencia diante da ameaça feita por seu subordinado, é porque o que restava de espírito público acabou.
Tempos estranhos estes. Não dá mais para disfarçar. Há uma eletricidade de fim de ciclo no ar.