Pode ter sido só um ato falho ou um deslize cometido por quem quer, artificialmente, parecer mais pop. Mas a presidente Dilma Rousseff acabou por expor, ainda que involuntariamente, sua maneira de ver os limites de uma disputa eleitoral. Aí, não tem meias palavras: para ela e para o PT, vale tudo.
Em mais um de seus atos oficiais transformados em eventos de campanha, Dilma disse anteontem na Paraíba que “nós podemos disputar eleição, nós podemos brigar na eleição, nós podemos fazer o diabo quando é a hora da eleição”. Deixou claro que está disposta a tocar o terror para se reeleger daqui a 19 meses.
A presidente foi à Paraíba para entregar moradias a famílias e distribuir maquinário, como retroescavadeiras, a municípios. Prometeu também dar caminhões-caçamba e motoniveladoras aos prefeitos paraibanos futuramente. Depois de amealhar as migalhas, só faltou distribuir santinhos de campanha…
A relação da presidente com os municípios se dá desta forma: os mantém sob cabresto, minando-lhes a autonomia. Ganham benesses os que se comportam direitinho. Fosse republicana e respeitosa a relação, o Orçamento Geral da União não estaria cheio de emendas parlamentares não liberadas e de programas e ações federais mal executados. O que interessa é manter a relação de dependência.
Mas voltemos ao que interessa: a visão que Dilma tem das eleições. A persona eleitoral da hoje presidente foi moldada num ambiente depauperado, em que as instituições foram contínua e cotidianamente desrespeitadas e a Constituição, aviltada. Até hoje, Dilma parece não ter descido do palanque no qual Luiz Inácio Lula da Silva a colocou cerca de cinco anos atrás. O cachimbo fez-lhe a boca torta.
O hoje presidente-adjunto transformou o dia a dia de seu segundo mandato numa campanha eleitoral em tempo integral, em ritmo de Big Brother, para eleger a pupila. Já no decorrer de 2008, a então ministra-chefe da Casa Civil fora transmutada em “mãe do PAC” e convertida em candidata full time. Talvez isso explique porque o programa do qual deveria cuidar até hoje se arrasta de maneira indigente…
É possível que, moldada neste figurino de vale-tudo, Dilma não se acanhe em, novamente, protagonizar uma esdrúxula e extemporânea campanha eleitoral. Mas o que no passado já foi um acinte, agora é um disparate. Hoje ela é a presidente da República! É criminoso transformar metade do mandato outorgado pelo povo em mera antevéspera de uma eleição em busca de mais quatro anos de poder.
Não espanta que Dilma veja com naturalidade a possibilidade de “fazer o diabo” para vencer uma eleição. A cada dois anos, seu partido, o partido dos mensaleiros, exercita suas diabruras para conquistar novos nacos de poder, seja na alçada municipal, seja nas esferas estaduais e federais.
A campanha presidencial de 2010 forneceu o exemplo mais explícito de vilipêndio às instituições, com Lula usando do cargo e abusando da máquina para eleger Dilma, ao mesmo tempo em que acelerava artificialmente a economia – deixando um papagaio que até hoje a sociedade brasileira está pagando, na forma de mais inflação e de crescimento medíocre do PIB.
Mas tem muito mais. Tem também o dinheiro sujo de aloprados para burlar eleições e tentar denegrir adversários. Tem dólares na cueca de assessores de políticos hoje convertidos em lideranças nacionais do petismo e até a transformação da tribuna democrática da internet numa espaço de guerrilha pró-PT.
A presidente da República não poderia deixar se envolver neste ambiente nefasto. No entanto, sucumbe. Dilma Rousseff tem os olhos voltados para 2014, quando 2013 ainda representa um enorme desafio e uma incógnita para um país que, cada vez mais, está se tornando um pária num mundo novamente em aceleração. O diabo está no dia a dia e suas dificuldades reais, mas estas a presidente não parecer disposta, nem habilitada, a enfrentar.