A obra de transposição do rio São Francisco “está andando”, disse a presidente Dilma Rousseff durante visita à Fortaleza na última sexta-feira (22).
Não foi o que apurou o jornal Folha de S. Paulo, em reportagem veiculada no sábado (23). Após percorrer os dois canais da obra, norte e leste, o que a publicação encontrou foram trechos abandonados, outros em ritmo lento e remendos sendo feitos em placas de concreto já rachadas.
“O cancelamento da visita da presidente Dilma às obras da transposição se deu em virtude do estado em que se encontram essas obras. Ela está em um completo descompasso, alardeando que as obras estão caminhando, sendo que há um quantitativo muito pequeno de retomada”, afirma o deputado federal Raimundo Gomes de Matos (PSDB-CE).
O parlamentar avalia que a cobrança do governo pela aceleração das obras se deve em grande parte às críticas feitas pelo PSDB, e pelo presidente da legenda, senador Aécio Neves (MG), em programa partidário exibido no dia 19 de setembro.
Em Mauriti (CE), município visitado por Aécio, o jornal encontrou trechos abandonados e em deterioração. Executadas pela Delta, as obras foram paralisadas no ano passado após denúncias de corrupção envolvendo a empreiteira.
“É um vexame, especialmente porque existem muitos problemas, não só relacionados aos trechos da obra abandonados. Estamos falando dos sertanejos, do pequeno agricultor, que teve que deixar a sua terra, da população remanejada. É um descaso, com as obras e com as pessoas”, lamenta Gomes de Matos.
O tucano diz ainda que, caso as obras continuem no mesmo ritmo, o governo petista vai deixar de cumprir mais uma promessa à população brasileira: a de concluir a construção dos canais até o fim de 2015.
“Pode ser que essas obras só saiam em 2017 ou 2018, já que, como a Folha apurou, estão efetivamente abandonadas”, completa.
Transposição
Com conclusão inicialmente prevista para 2012, a transposição do São Francisco consiste na construção de 477 km de canais que levarão a água do rio a quatro estados do Nordeste. É a mais cara ação federal de combate aos efeitos da seca.
O orçamento total saltou de R$ 4,6 bilhões para R$ 8,2 bilhões desde o início das obras, em 2007, durante o segundo mandato do ex-presidente Lula.
De acordo com o mais recente balanço do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), divulgado em outubro deste ano, o eixo leste da transposição avançou apenas 1% em 2013, com 52% de execução. Já o eixo norte saiu de 34% para 43% de execução entre fevereiro e outubro deste ano.
Atualmente, os únicos dois trechos prontos são lotes feitos pelo Exército.
