A cada tragédia que acontece no país, uma revelação. Assim tem vivido o Brasil nos últimos anos. Vejamos. Em apenas 14 meses, 364 pessoas morreram em acidentes aéreos de grande repercussão: 154 no vôo da Gol, que se chocou no ar com o Legacy, 199 no avião da TAM, que deslizou na pista de Congonhas e colidiu em um prédio da própria companhia; três na queda de três helicópteros em um mesmo dia, na última quinta-feira, e as oito vítimas da queda do jatinho em cima de uma casa em São Paulo, neste final de semana.
A partir do primeiro acidente, em setembro do ano passado, foi uma enxurrada de descobertas: que há buracos negros no espaço aéreo brasileiro, que os operadores de vôos trabalham com equipamentos ultrapassados, têm falhas na formação e excesso de jornada, que as autoridades responsáveis pela aviação civil mantinham relações promíscuas com as companhias, que as obras nos aeroportos estão sob suspeita de superfaturamento, que o “apagão aéreo” deve perdurar ainda meses a fio.
A última delas está nos jornais desta semana, na declaração do ministro da Defesa, Nelson Jobim, de que a fiscalização dos aviões particulares e táxis aéreos no país não é eficaz. Segundo o ministro, “o problema da fiscalização é uma coisa e a outra coisa é a eficácia desta fiscalização”. Em resumo: ineficaz, nesse caso, é o mesmo que inexistente.
O fato é que as revelações não se restringem apenas às tragédias aéreas. Com a operação Ouro Branco, da Polícia Federal, que prendeu os responsáveis pela mistura de água oxigenada e soda cáustica no leite longa vida, descobrimos que a fiscalização dos laticínios é ineficiente, que falta pessoal e que o esquema de adulteração existia há tempos. Na semana passada, a Petrobras iniciou o racionamento de gás natural no Rio de Janeiro e São Paulo, depois de o governo ter estimulado os clientes a investirem nessa fonte energética. O fornecimento só foi retomado a mando da Justiça.
Descobriu-se que, por uma falta de planejamento, corremos enormes risco de termos um “apagão” do gás, que o governo brasileiro vai voltar a investir na Bolívia, mesmo depois de o presidente Evo Morales ter retomado as refinarias brasileiras, ter cercado a Petrobras com o Exército e aumentado o preço do gás. E por aí vão as revelações.
O certo é que o governo se considera um carrossel sincronizado e gracioso, quando está mais para um trem fantasma: a cada curva, uma surpresa e a cada desgraça, uma descoberta. E o cidadão, que vive atolado em impostos para cobrir as despesas crescentes da máquina pública, se vê refém da insegurança e do pouco caso. Parafraseando o ministro Jobim, a eficácia deste governo é que é o problema.
Duarte Nogueira é Deputado Federal pelo PSDB-SP, foi secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (2003/2006), da Habitação (95/96), e Deputado Estadual por três mandatos