Deputados tucanos saíram em defesa da liberdade de imprensa após a presidente Dilma Rousseff demonstrar publicamente seu incômodo com a veiculação de notícias sobre a delação premiada do ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa.
Ao ser questionada, na sexta-feira (19), sobre o vazamento de trechos dos depoimentos de Costa que colocam integrantes de seu governo sob suspeita, a petista respondeu que não se baseava em notícias publicadas na imprensa. “Eu não tenho porque dizer que tem alguém envolvido porque eu não reconheço na revista “Veja” nem em nenhum outro órgão de imprensa o status que tem a Polícia Federal, o Ministério Público e o Supremo. Não é função da imprensa fazer investigação, é função divulgar informações.”
Segundo o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA), a manifestação da presidente contra a imprensa está plenamente de acordo com os ideais petistas. “Não me surpreende ouvir isso de uma integrante do partido que defende há anos a “regulação da mídia”, espécie de censura disfarçada”, disse o parlamentar em seu perfil no Facebook.
O tucano ressaltou ainda o papel fundamental da mídia na divulgação de falcatruas promovidas pelo PT e partidos aliados na estrutura pública. “A história registra que os maiores escândalos de corrupção da vida brasileira foram conhecidos a partir de matérias feitas pelos jornais, revistas e TVs.”
O deputado Nelson Marchezan Júnior (RS) considerou inaceitável a opinião da presidente. “Ela está atentando contra a liberdade de imprensa, que é um princípio básico, preliminar e sine qua non da existência da democracia. Esta manifestação da presidente é um atentado à democracia”, criticou.
Na tentativa de conter a repercussão negativa sobre sua manifestação, Dilma tentou se retratar no domingo (21). Em entrevista coletiva, disse que houve uma “confusão” em sua declaração. Segundo ela, a imprensa “pode até fornecer elementos” para investigações em curso.
CORRUPÇÃO – O ataque de Dilma aos veículos de comunicação não foi capaz de tirar as atenções sobre a divulgação de novos trechos da delação premiada de Costa. De acordo com reportagem veiculada pelo jornal “Folha de S.Paulo” de sábado (20), o ex-diretor afirmou a investigadores que o esquema de desvios de recursos na estatal ocorria também na diretoria de Serviços e na divisão internacional, entre 2004 e 2012.
A primeira foi ocupada, à época, por Renato Duque, indicado pelo PT. A área internacional estava sob responsabilidade de Nestor Cerveró, apoiado por petistas e peemedebistas.
Cerveró é apontado por Dilma como o responsável pela elaboração de um resumo “técnica e juridicamente falho” que recomendou ao Conselho de Administração da estatal a compra da refinaria de Pasadena (EUA), pela qual a Petrobras desembolsou o total de US$ 1,249 bilhão.
AUDITORIA FURADA – As novas revelações de Costa colocam sob suspeita a auditoria interna promovida pela Petrobras para apurar a compra da unidade norte-americana. Após seis meses e dois adiamentos, ela não chegou a qualquer conclusão sobre irregularidades do negócio e foi alvo de duras críticas dos integrantes do Conselho de Administração da estatal.
A investigação sobre Pasadena foi aberta no dia 24 de março. O prazo previsto para conclusão das apurações era de 45 dias, mas a estatal prorrogou a auditoria pelo menos duas vezes – em maio e em junho. Os adiamentos foram autorizados pela presidente da companhia, Graça Foster, sob a alegação de que era necessário ouvir mais testemunhas.
Em junho, ao justificar um novo adiamento da auditoria, Foster afirmou que a estatal “não investiga”. “A Petrobras não é polícia. A gente ouve as pessoas, vê os contratos, faz relatórios e tem obrigação de entregar aos órgãos de controle. Pasadena está em curso ainda, é complicado”, disse em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo”. Em maio, conselheiros e direção da empresa já haviam divergido sobre as auditorias.
O presidente do conselho, o ministro da Fazenda Guido Mantega, decidiu alterar a composição do Comitê de Auditoria, um órgão auxiliar ao conselho que ajuda no controle interno dos processos e finanças da empresa. Na ocasião, dois conselheiros independentes foram substituídos por integrantes ligados ao governo, como a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, e o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho.