Por mais que as mobilizações populares de junho tenham deixado claro um alto grau de insatisfação com os governantes brasileiros, medido pelas pesquisas que revelaram quedas nos índices de aprovação tanto da presidente Dilma Rousseff (PT), como de governadores e prefeitos, fica no ar o que será do Brasil daqui para frente. Infelizmente, o que se vê é uma grande inquietação da classe política, que tenta não perder o bonde da história. Mas, em vez de olhar para o desenvolvimento do país e tirar lições práticas, percebe-se que o foco – principalmente do Palácio do Planalto – está apenas nas eleições de 2014.
Tanto é assim que Dilma, movida pelos “iluminados” que a cercam, sai dando tiros para todos os lados com o claro objetivo de sempre tirar vantagens eleitorais. O 40º ministro da presidente, o marqueteiro João Santana, que se julga o professor de Deus, resolveu que a resposta às ruas seria jogar a responsabilidade de tudo que está errado na administração federal nas costas do Congresso Nacional e do próprio povo.
Primeiro, tirou de sua cartola de mágico uma nova Constituinte para acelerar uma reforma política. Ideia iluminada e mal articulada foi sepultada em menos de 24 horas. Depois, sacou da manga um plebiscito que nasceu morto, para tentar jogar a população contra deputados federais e senadores, como se todos os problemas do Brasil, apontados nas manifestações populares, se resolveriam a partir da consulta popular.
De tão ruim que foi a ideia iluminada, até a própria base do governo saiu batendo cabeça. Nem o vice-presidente Michel Temer (PMDB) conseguiu falar a mesma língua de sua chefe maior, contrapondo o marqueteiro mor e jogando mais gasolina na fogueira que se tornou o Palácio do Planalto. Por tudo isso, os objetivos de Dilma vão sendo sepultados um após o outro. Cogita-se uma reforma ministerial em um dia, com o enxugamento da máquina que emperra o poder, e no outro vem um desmentido. Espera-se ações efetivas e o que se vê são discursos no vazio. Tudo isso porque não se pensa em um projeto para o Brasil e sim apenas em um projeto de poder.
Desta forma, é fundamental que – neste momento – o Congresso Nacional se livre das amarras com o Palácio do Planalto e assuma seu papel na transformação efetiva no Brasil. Que as oposições, ainda em minoria, façam valer as vozes das ruas e criem um amplo calendário para o país, com a definição clara do que se espera de seus representantes. A hora é de definir a reforma política não visando a perpetuação do poder mas a realização dos sonhos de milhões de brasileiros.
E isso só ocorrerá no momento em que tivermos no comando da nação alguém com capacidade para fazer gestão política e administrativa. Chega de achismos ou ações pirotécnicas. Temos exemplos na história recente do país de que esses mecanismos ilusionistas não perduram e levam a nação ao caos. A inflação voltou. A corrupção nos altos escalões do governo corre solta. Os condenados pelo Mensalão seguem fora da prisão. O melhor neste instante é definir esse calendário político, elencando as prioridades econômicas e sociais voltadas à população e não à reeleição.
*Carlos Roberto é deputado federal, presidente da subcomissão de monitoramento das políticas de financiamento dos bancos públicos de fomento, com destaque ao BNDES, e industrial.