Por Vitor Lippi
É impossível um país ser competitivo se não tiver recursos para investir nas diversas áreas que promovem o crescimento econômico: indústria, serviços, inovação e pesquisa, capital humano, infraestrutura. E o nível de competitividade será ainda menor se, mesmo que tenha recursos, gastar mal e sem planejamento. Isso parece óbvio em nossas casas. Mas por que parece tão complexo e difícil quando se pensa em país?
Primeiro, é preciso mudar a mentalidade de que dinheiro público não é de ninguém, apesar de tradicionalmente os governos que se sucedem acharem isso. O Brasil parece ter preguiça de fazer um planejamento macro, de longo prazo. Felizmente somos uma democracia e temos a possibilidade de, a cada quatro anos, promover a alternância de poder nos municípios, estados e no governo federal.
Só que não está escrito em nenhum manual que governos de visões ideológicas distintas precisam simplesmente ignorar o que foi feito pelos seus antecessores. Mas isso normalmente acontece e acabamos avançando e retrocedendo, deixando a impressão de que não saímos do lugar ou, no máximo, avançamos de maneira muito lenta. E são os brasileiros, sobretudo os mais carentes, que sofrem com essa inércia de desenvolvimento.
Outro problema de nossa mentalidade gerencial pública que precisa ser urgentemente modificada é a ausência – por falta de parâmetros ou por comodidade e incompetência – de métricas para mensurar a qualidade dos gastos. Em muitos momentos de nossa história investimos em projetos sem avaliar custo/benefício, gastamos dinheiro de maneira pouco inteligente, não atingimos os objetivos propostos e ficamos com “elefantes brancos” ou obras inacabadas. Um país com um cobertor tão curto como o nosso não deveria se dar ao luxo de fazer isso. Mas não é isso que acontece conosco.
Sem recursos, o Brasil deixa de investir em pontos nevrálgicos da economia, que impactam na produção, no emprego e na renda dos cidadãos, como a indústria. E o processo de desindustrialização gradual pela qual o Brasil vem passando nos últimos anos é visível. Em 1990, quando o país respirava os ares da democracia, da Constituição de 1988 e da primeira eleição direta após anos de governos militares, a participação da indústria de transformação no PIB brasileiro era próxima de 15%. Trinta anos depois – 2020 – esse percentual situava-se pouco abaixo dos 10%. Em comparação ao PIB Mundial, o encolhimento foi ainda mais dramático: nossa indústria representava 2,6% do PIB global em 1990 e apenas 1,3% em 2020.
Dados da Agência da ONU para o desenvolvimento industrial mostram que o Brasil tem perdido espaço na lista dos maiores parques industriais. Em 1990, estávamos na nona colocação; em 2000, na 11ª e em 2021, na 15ª. Entre 2013 e 2019, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o setor perdeu 28,6 mil empresas e mais de 1,4 milhão de postos de trabalho. Com isso, as indústrias que se mantêm ativas reduziram de porte e passaram a remunerar menos os empregados.
Isso tudo em um setor que é crucial ao país. Para se ter uma ideia, cada R$ 1,00 produzido na indústria gera R$ 2,43 na economia brasileira, enquanto cada R$ 1,00 na agropecuária e no comércio e serviços gera R$ 1,75 e R$ 1,45, de acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI).
O Brasil precisa ter planejamento e métrica para avaliar onde, quando e como investir. Enquanto não somos o país rico e desenvolvido que sonhamos, que sejamos ao menos competitivos e organizados dentro de nossas possibilidades e realidade.
*Vitor Lippi (PSDB-SP) é deputado e diretor de transformação digital da Frente Parlamentar pelo Brasil Competitivo