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Falando para o eleitorado

O assertivo protesto da presidente Dilma Rousseff, na abertura da Assembleia-Geral da ONU, contra a rede global de espionagem eletrônica tecida pela Agência Nacional de Segurança (NSA) dos Estados Unidos foi a resposta que lhe cabia dar, até mesmo na condição de chefe de Estado que foi pessoalmente monitorada pelo megaesquema de bisbilhotice. Ela arrolou os alvos brasileiros do que chamou apropriadamente de “intrusão”, ressaltou a “afronta” que isso representa aos princípios que devem reger as relações entre países soberanos, “sobretudo entre nações amigas”, e contestou a alegação americana de que a defesa contra o terrorismo – “as preocupações legítimas de segurança de nossos cidadãos e aliados”, enfatizaria em seguida o presidente Barack Obama – é a meta única dos “mecanismos pelos quais reunimos inteligência”, ainda nas suas palavras. “O Brasil”, apontou Dilma, “repudia, combate e não dá abrigo a grupos terroristas.”

Uma coisa são as palavras; outra, os fatos – e não se pode ignorar que a presidente enveredou pela contramão da realidade ao apregoar os seus alegados esforços para proteger o Brasil da interceptação de comunicações e dados. Na mesma terça-feira em que Dilma se dirigiu à ONU, o site Contas Abertas revelou que o já restrito orçamento do Exército para a defesa cibernética em 2014 deverá ficar R$ 20 milhões abaixo dos R$ 90 milhões previstos para o atual exercício. E, destes, menos de R$ 16 milhões foram empenhados e apenas R$ 14,4 milhões foram pagos até a semana passada. Segundo o Ministério da Defesa, citado pelo site, os empenhos tendem a crescer no segundo semestre. O essencial, como deixa claro o titular da Pasta, Celso Amorim, é que o País tardará a se apetrechar na frente eletrônica. “Isso leva tempo, demanda investimentos, formação de pessoal e mudança de cultura”, afirmou. Não foi o que Dilma quis fazer crer em seu pronunciamento – no qual se sobressaem as digitais dos seus marqueteiros. Embora dissesse o que precisava dizer da espionagem denunciada, ela falava para um público desmedidamente maior do que as delegações dos 193 Estados-membros da ONU: o eleitorado nacional.

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