Após o leilão de Libra, o governo federal cobrará a fatura exigida de R$ 15 bilhões dos vencedores e R$ 6 bilhões que cabe à Petrobras – relativos à participação de 40% no consórcio. Especialistas, que acompanharam o processo, advertem que o preço da fatura é alto e causará consequências para a economia e a sociedade brasileiras. Uma das preocupações dos especialistas é como a Petrobras, que está em dificuldades, pagará sua parte.
“[O sistema utilizado pelo governo] mostrou que ele decidiu resolver um problema a curto prazo, de caixa, no pior momento da Petrobras”, ressaltou o economista do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) Adriano Pires. “Como é que a Petrobras vai pagar a parte dela? De onde a empresa vai tirar esse dinheiro?”, perguntou ele.
O ex-prefeito de Vitória e engenheiro de produção Luiz Paulo Vellozo Lucas reiterou que a forma como o governo conduziu o processo provocará uma série de consequências à economia e à sociedade. Segundo ele, há ameaças de aumento de impostos e a contenção do preço da matriz energética.
“[Além disso,] o consumidor paga o preço pela manipulação. Nas eleições de 2010, a presidente Dilma Rousseff criticou o PSDB por promover privatizações e agora?”, reagiu Vellozo Lucas. “A demora do governo em discussões, fazendo politicagem, levou o Brasil a acumular um prejuízo, pois se o leilão tivesse ocorrido antes, teria gerado 50 vezes mais de receita.”
Pela prática do mercado, as negociações sobre o bônus começarão em breve no momento de assinatura do contrato de partilha do pré-sal com a União. Os especialistas, consultados pelo PSDB, preveem um cenário incerto para a obtenção de recursos para a Petrobras ter condições de saldar sua parte.
Segundo Pires, apenas a possibilidade de aumento dos preços de combustíveis não resolve o problema. De acordo com ele, a tendência é que a Petrobras adquira empréstimos com os demais sócios do consórcio (Shell, Total, CNOOC e CNPC) para garantir o pagamento da sua parte. Vellozo Lucas disse que a tendência é elevação de impostos.
Porém, ambos criticaram a maneira como o governo lidou com o processo do leilão e as manifestações registradas ontem (21), no Rio. “O governo continua lidando com o setor do petróleo de forma ufanista, demagógica e ideológica”, disse Pires. “O grande perdedor [no leilão de Libra] foi o governo.”
Em seguida, Vellozo Lucas acrescentou que: “Não houve uma manifestação contra a iniciativa privada, mas contra o conjunto da obra. Há uma indignação geral da sociedade. O povo dos erros cometidos pelo governo no setor do petróleo. O governo não tem mais credibilidade e a população não tem mais confiança. Também falta confiança aos investidores”.
