Na chapa que será eleita para o comando do PSDB, Aécio Neves cede espaço nos cargos principais a pelo menos dois “serristas” — os paulistas Mendes Thame, como secretário-geral, e Alberto Goldman, como um dos vices. Espera selar, assim, uma trégua na divisão que assombra o partido, com a constante ameaça de boicote à sua candidatura por parte do ex-governador José Serra. “A nossa agenda agora é outra”, diz Aécio, que foi acordado ontem por um telefonema de Serra para os últimos acertos da chapa. Aécio promete uma agenda nova e afirma que ao PT interessa “administrar a pobreza”, e ao PSDB, superá-la.
O senhor pretende estabelecer uma marca forte para o partido?
O PSDB vai iniciar uma nova fase de organização interna e de mais interlocução com a sociedade. O PSDB vai sair conversando com o Brasil para ouvir e apresentar, até o fim do ano, uma nova agenda para os próximos 20 anos.
Quais os pontos principais?
Ela passa pela recuperação de valores éticos e morais que o PT permitiu que se perdessem; passa pela defesa intransigente da democracia e repulsa absoluta por qualquer ato de cerceamento da liberdade de imprensa ou limitação das ações do Supremo e do Ministério Público. E passa pela rediscussão dos programas sociais. Vamos resgatar nossa história, mostrar que a matriz da transferência de renda é do governo do PSDB, e dar um passo além.
O que é esse passo além?
É defender, por exemplo, a aplicação de 10% do Orçamento em Educação, o que acontecerá gradualmente, para investir em qualificação. O slogan do governo hoje é “país rico é país sem miséria”. Para nós, país rico é país com Educação. E Educação com qualidade, o que não avançou no governo do PT. Vamos também resgatar os pilares fundamentais da economia, que o PT manteve no início, mas veio flexibilizando. Meta de inflação num governo do PSDB será no centro da meta. No governo do PT, é uma meta virtual. Vamos voltar a aplicar o câmbio flutuante e teremos metas de superávits claras, sem maquiagem.
Qual a maior fragilidade que o senhor aponta no governo Dilma?
A ineficiência. A presidente foi eleita como a mãe do PAC, a grande gestora. Como filho feio não tem pai nem mãe, ninguém mais fala nisso. E se há uma carência grande hoje é de gestão. O Brasil não anda, porque o governo é paquidérmico e não tem foco. O governo do PT parece se contentar com a administração da pobreza. Para nós, o objetivo é a superação da pobreza.
Qual a dificuldade de disputar com uma presidente com popularidade alta, baseada em emprego e renda?
Realmente temos pleno emprego no Brasil, mas mais de 90% dos empregos criados na era PT são empregos até 2,5 salários mínimos. Isso é importante, mas é pouco. Eu não tenho preocupação em dizer como vamos vencer a eleição. A preocupação do PSDB é apresentar um projeto alternativo. Nosso desafio é reposicionar o PSDB na centro-esquerda que prega eficiência de gestão, mas também participação do Estado em políticas sociais.
Que mensagem levará ao povo?
Vamos fazer uma campanha de valores, mostrando, a partir de nossas experiências, que nós, quando governamos, fazemos melhor. Mostrar que os acertos do PT foram sempre aqueles em que ele se apropriou das ideias do PSDB: programas de transferência de renda, pilares macroeconômicos, concessões de petróleo e gás e, agora, a modernização dos portos, com o objetivo correto pela via equivocada. Resumo da ópera, quando o PT tucana, ele vai bem; quando o PT sucumbe ao seu viés autoritário, o Brasil vai mal.
O senhor sai da convenção com o PSDB de São Paulo pacificado?
Tudo pacificado, o Serra inserido. Para alguém da qualidade da história política do Serra, sempre haverá espaço para contribuir.
Qual o próximo passo?
Construir um colegiado com vice-presidentes que vão me ajudar na formulação das estratégias e de programas. O colegiado — os vice-presidentes Tasso Jereissati, Alberto Goldman, Álvaro Dias, Cassio Cunha Lima e Ciro Miranda, além de um representante da Câmara, o Bruno Araújo — vai ser um órgão de ação estratégica.