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Documentos obtidos por VEJA revelam até onde chegaria a ofensiva em defesa de mensaleiros – não tivesse CPI do Cachoeira barrado ataques ao chefe do MP
Desde que os integrantes da CPI do Cachoeira decidiram rejeitar a convocação do procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, em 15 de maio, arrefeceu a ofensiva petista contra o chefe do Ministério Público. A convocação do procurador era, na verdade, uma manobra de radicais para comprometer o responsável por defender a condenação dos mensaleiros no julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. A ofensiva se apoiava em críticas sobre a atuação de Gurgel diante dos dados obtidos pela Operação Vegas da Polícia Federal, que investigou a quadrilha de Cachoeira. E contou com o apoio de ninguém menos do que Fernando Collor para tentar desmoralizar o chefe do MP. Documentos obtidos pelo site de VEJA deixam claro até onde os petistas chefiados por Lula e José Dirceu – justamente o chefe da quadrilha do mensalão – estavam dispostos a chegar: pedir a investigação criminal contra Gurgel. O texto, que fala em “crime de responsabilidade”, tem data de 13 de maio e traz o indelével DNA do PT.
A assinatura digital do documento revela os autores da representação: o assessor jurídico Alberto Moreira Rodrigues, lotado na liderança do PT na Câmara – subordinado, portanto, ao líder Jilmar Tatto – e Rebeca Albuquerque, chefe de gabinete do deputado Odair Cunha (PT-SP), relator da CPI do Cachoeira. Rodrigues também já trabalhou no escritório de Claudismar Zupiroli, advogado eleitoral do PT.
Foram redigidos dois documentos: uma nota técnica, para consumo interno, e a representação propriamente dita. Esta é direcionada ao presidente do Senado, José Sarney. Legalmente, a Casa tem a prerrogativa de investigar o procurador-geral da República. “Além de omitir-se no cumprimento de seus místeres constitucionais, o chefe do Ministério Público ou sua subprocuradora-geral retiveram o inquérito nos escaninhos do Ministério Público, impedindo que a Polícia Federal desse continuidade às investigações e abortasse, num tempo mais reduzido, a sangria que a organização criminosa promovia contra os cidadãos e as instituições da República”, diz o documento, mencionando também a subprocuradora Cláudia Sampaio, mulher de Gurgel.
A conclusão radical é clara: “Face ao exposto e tendo-se demonstrado que o procurador-Geral da República, ora representado, omitiu-se no desempenho de seus misteres constitucionais (…), é a presente representação para que o Senado Federal, nos limites da sua competência constitucional, proceda à abertura do competente procedimento de apuração das responsabilidades acima denunciadas e, ao final, aplique ao representado as penalidades compatíveis com a omissão legal e constitucional aqui delineada”.
Recuo – No lugar da assinatura, há apenas: “Sicrano de Tal, deputado federal – PT/… ou Sicrano de Tal, senador da República – PT/…”. Dois dias depois da elaboração do documento, entretanto, a CPI do Cachoeira rejeitou a convocação do procurador-geral, aprovando apenas o pedido de explicações por escrito. O clima demonstrou-se contrário aos ataques ao procurador. A ofensiva petista, ou pelo menos o braço visível dela, foi abortada.
A liderança do PT na Câmara confirma a existência do documento. O líder Jilmar Tatto está em viagem oficial à China. O líder em exercício do PT na Câmara, Elvino Bohn Gass (RS), justificou a elaboração do material: “Os documentos da bancada são os assinados pelo líder. Se o assessor escreve, é um documento qualquer e só tem valor depois que é assinado pelo líder”, tergiversa. “Não houve nenhuma orientação política a esse respeito”.
O PT e a CPI – Reportagem de VEJA desta semana revela a existência de um documento preparado por petistas para guiar as ações dos companheiros que integram a CPI do Cachoeira. Consta do roteiro uma lista de alvos preferenciais do PT, entre eles Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), e Roberto Gurgel, procurador-geral da República.
O guia de ação produzido pela liderança petista, ao qual VEJA teve acesso, não deixa dúvida sobre as reais intenções do grupo mais umbilicalmente ligado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os alvos são os oposicionistas, a imprensa e membros do Judiciário que, de alguma forma, contribuíram ou ainda podem contribuir para que o mensalão seja julgado e passe, portanto, a existir oficialmente como um dos grandes eventos de corrupção da história brasileira – e, sem dúvida, o maior da República.