Os investidores nacionais e estrangeiros reduziram em US$ 11 bilhões suas apostas contra a moeda brasileira depois dos recados do Banco Central e das medidas anunciadas na semana passada. Apesar de o dólar ter subido ontem 1,6%, fechando a R$ 2,38 no mercado à vista de balcão, a alta pode ter sido apenas um ajuste se observada a considerável redução de cerca de 40% nas posições contra o real na Bolsa de Mercadorias e Futuros. De qualquer forma, o mercado financeiro já está embutindo uma expectativa maior de inflação, considerando um novo patamar de câmbio.
O relatório Focus, em que o Banco Central reúne semanalmente as previsões de instituições financeiras, apontava ontem uma alta de 5,74% para 5,8% no índice de preços para o ano. Algumas instituições, como Itaú Unibanco, Banco Fator e Santander, já trabalham com projeção ainda maior, que supera 6%. O economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves, revisou ontem sua estimativa e diz que já considera como certo o repasse da alta do dólar para os preços do combustível “E é dífícil que o câmbio não bata na cesta básica”, completa Gonçalves.
O Banco Central trabalha com o impacto no câmbio na inflação, mas em menor grau do que considera o mercado financeiro. A estimativa do mercado é de que a valorização de quase 20% do dólar no ano signifique 1,5 ponto porcentual na inflação. “Se o governo não fizer um ajuste fiscal em suas contas, terá de reduzir a demanda privada e subir juros” diz o economista Cristiano Souza, do Santander. Há dois meses, o banco trabalha com a inflação acima dos 6% e estima a taxa básica de juros (Selic) em 11% no ano que vem. Hoje a Selic está em 8,5% ao ano e se tem como quase certo, até pelas sinalizações dadas pela autoridade monetária, de que amanhã o BC vai anunciar o novo patamar de 9%. A questão é a dose da alta dos juros.
Recado- Na segunda-feira da semana passada, o presidente do BC, Alexandre Tombini, passou um recado ao mercado por meio de nota oficial em que alertava que os movimentos observados nas taxas de juros de mercado incorporam prêmios excessivos. No mercado futuro, as projeções levavam a Selic para a casa dos dois dígitos. O teor da nota ainda dava conta de que o BC estava considerando existir um movimento especulativo contra a moeda brasileira. Tombini disse que a “concentração de posições em uma única direção poderia trazer perdas aos que apostam em movimentos unidirecionais da moeda”
Ele se referia às posições “compradas” de dólar na BM&F. No jargão do mercado, quem está comprado, está apostando na alta, seja de juros ou de câmbio ou da bolsa. No caso do dólar, os investidores estrangeiros estavam aumentando exponencialmente suas posições e tinham chegado no recorde de US$ 16 bilhões de apostas contra o real na sexta-feira anterior ao recado de Tombini.
Parece que o recado do presidente do BC, aliado ao anúncio do programa de vendas de US$ 60 bilhões em doses diárias, teve efeito. Ao longo da semana as posições foram reduzidas e na sexta-feira, dia 22 de agosto, o valor chegava a US$ 10,42 bilhões, segundo cálculos da MCM Consultores. A redução de posições também se deve ao fato de que os investidores estrangeiros, segundo alguns operadores, temerem que o governo tribute as operações, como forma de conter as apostas. As posições no mercado futuro são importantes pois se refletem no mercado à vista, influenciando a cotação.
Os fundos nacionais também reduziram apostas. As posições “compradas” que chegaram US$ 13,15 bilhões no dia 16 de agosto estavam em US$ 7,95 bihões na sexta-feira, último dado disponível. Esses fundos chegaram a ter uma posição de US$ 25 bilhões no fim de julho. A economista do Itaú BBA, Gabriela Fernandes, lembra que foi reduzido o Imposto sobre Operações Financeiras das operações de derivativos de posições “Vendidas” de investidor local, hef dois meses, o que também afetou a disposição dos fundos nacionais em troca de posição.