Correio Braziliense –
Definir a data do julgamento dos réus do mensalão constitui passo decisivo para pôr ponto final em capítulo obscuro da história recente do país. Denunciada há sete anos pelo então presidente do PTB, Roberto Jefferson, a rede de corrupção montada no governo Lula abalou os alicerces da República. Dinheiro público pagava apoio político. Em português claro: o parlamentar recebia mesada para votar a favor do governo.
Entre os protagonistas, sobressaíam cabeças coroadas do cenário nacional. José Dirceu, uma das lideranças históricas do PT e à época o todo-poderoso chefe da Casa Civil do Palácio do Planalto, encabeçava o esquema. José Genoino, Delúbio Soares, João Paulo Cunha e outros próceres partidários engrossavam a fila do talvez maior escândalo político conhecido no país.
A partir de 1º de agosto, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgará os 38 mensaleiros. A expectativa é que o processo se estenda até meados de setembro, e a sentença de absolvição ou condenação dos réus seja conhecida antes do primeiro turno das eleições municipais. O calendário, porém, não é pétreo. Pode haver pedras no caminho.
Segundo a previsão, a primeira fase -sustentação oral do procurador-geral da República e dos advogados dos acusados -se concluirá em 14 de agosto. Não há prazo para a apresentação dos votos de cada ministro. Mas o presidente Carlos Ayres Britto estima que possa concluir o processo até 4 de setembro, um mês antes das eleições municipais.
É possível que haja percalços. Nada impede que um ou outro ministro peçam vistas. Mas, como o calendário foi fixado de comum acordo, é pouco provável que tal ocorra -até porque iria de encontro às expectativas da população, temerosa de que a procrastinação seja prenúncio de impunidade. É verdade que o STF não se curva à opinião pública. É verdade, também, que a Corte tem mostrado sintonia com os anseios da população.
Daí o esforço concentrado que prevê sessões diárias nos primeiros 15 dias do julgamento. Depois, às segundas, quartas e quintas. É bom sinal. O Supremo, como definiu o presidente Ayres Britto, julgará “sem sangue nos olhos, mas também sem ramalhete de flores”. Longe das paixões que têm envolvido o tema desde as origens, a Corte olhará os fatos com isenção. E, com base neles, fará justiça. Esclarecerá o que houve e responsabilizará cada um na medida certa. É o que a sociedade espera.