Um dos mistérios do momento atual é que o mundo está com inflação baixa, as commodities estão em queda, mas a inflação brasileira permanece alta. Os países desenvolvidos estão com inflação média de 1,6%, a mais baixa desde 2010. Na zona do euro, desceu a 1,2% em abril. Do nosso lado, Peru, Chile, Colômbia, México têm taxas menores que 3,5%. O Brasil convive com inflação de 6,5% e tem PIB ao redor de 1%.
A inflação não é o problema que preocupa a economia global atualmente. O índice de commodities CRB está em queda de 5,2% no
mundo de janeiro a abril. No Brasil, o IC-Br, índice de commodities medido pelo Banco Central, cai 7,89%. Os preços agrícolas, no atacado, caem 7,75%, segundo esse indicador. As commodities metálicas caem 10,59% e as de energia, 5,55%. O barril de petróleo do tipo brent acumula queda de 9,3% este ano.
As projeções do Itaú Unibanco para a inflação dos países da América Latina este ano mostram um cenário favorável. Para o Peru, 2,5%. Colômbia, 2,8%. Chile, 2,5%. México, 3,3%. Já para o Brasil: 5,6% e sendo sempre reajustada para cima. A inflação anual na Colômbia foi de 2% em março. No Chile, a taxa em 12 meses até abril foi de 1%, abaixo da margem de tolerância do BC chileno, que é entre 2% e 4%, com a meta em 3%.
A inflação chinesa foi de 2,4% em 12 meses até abril. Nos EUA, foi de 1,5% até março, com queda de 0,2% em relação a fevereiro. Esperam-se novas reduções à frente porque o petróleo está em baixa no cenário internacional. A gasolina, lá, acompanha essa oscilação. No Japão, o Banco Central luta há décadas contra a deflação e anunciou um ambicioso programa de expansão monetária para tentar estimular o consumo.
O Brasil luta para evitar o estouro do teto da meta. Em março, estourou; em abril, ficou em 6,49%; em maio, há dúvidas; em junho vai estourar de novo. Não se pode dizer que isso é resultado do ritmo de crescimento porque o país não está crescendo como se esperava, e as projeções para o PIB estão sendo reajustadas para baixo.
Ontem, as estimativas de mercado medidas pelo Boletim Focus elevaram a inflação deste ano a 5,8%. Há quatro semanas, as cerca de 100 instituições financeiras ouvidas pelo BC estimavam 5,68%. Ou seja, permanece a piora das projeções porque a inflação tem surpreendido para cima. A última promessa feita pelo Banco Central é de entregar uma inflação este ano menor que a do ano passado, que foi de 5,84%. O risco é que nem isso consiga.
Vários desequilíbrios estão mantendo a inflação persistente. É escapismo dizer que é sazonal e devido aos preços dos alimentos. Eles aumentaram mesmo no começo do ano, mas a inflação permanece disseminada e resistente. Tem sido alimentada pela política fiscal expansionista; pelos recados contraditórios passados pelas autoridades, quando falam do assunto; pelo comportamento dúbio do Banco Central.
Todas essas quedas de preços internacionais e o recuo dos preços no atacado devem reduzir os índices de preços ao consumidor no segundo semestre, mas o país tem mantido índices altos demais por tempo demais e isso já está recriando eventos e ambiente que pareciam superados. A indústria quer fazer remarcações de dois dígitos, sindicalistas pedem indexação e gatilho, formadores de preços partem de 6% nos seus reajustes.
A inflação é uma velha conhecida do Brasil. Quem a viveu sabe todas as suas manhas, seus desdobramentos e seus efeitos colaterais. Por isso, não pode se deixar enganar. Quanto mais tempo ela fica alta, mais resistente se torna. Quanto mais as autoridades usam explicações tópicas, mais ela se generaliza. Quanto mais ela sobe, mais encomenda novas altas. Está na hora de olhar ao lado, comparar os números dos outros países com os nossos, arquivar as desculpas de sempre e enfrentar o problema inflacionário.