Líderes do partido estão preocupados com os movimentos de aproximação do governo
NATUZA NERY
MÁRCIO FALCÃO
DE BRASÍLIA
Preocupado com o pacote de concessões públicas que o governo Dilma Rousseff pretende lançar em agosto, o PT quer manter distância de qualquer coisa que associe a sigla, o governo ou suas lideranças à pauta “neoliberal”.
Em suas bases eleitorais, representantes do partido já operam vacinas contra possíveis ataques políticos relacionados ao assunto concessões ou privatizações.
Apesar de o partido pontuar de forma quase coreografada as diferenças entre as “concessões petistas” e as “privatizações tucanas”, há nos bastidores forte preocupação com a exploração eleitoral do conjunto de iniciativas definido pelo Palácio do Planalto para alavancar investimentos.
Alguns setores do PT reconhecem, reservadamente, que o tema concessões arranha o discurso histórico do partido contra a agenda neoliberal.
No início deste ano, durante a preparação do leilão de três dos principais aeroportos brasileiros, tucanos acusaram petistas de praticar “estelionato eleitoral”, exigindo um pedido público de desculpas.
A reação foi imediata. O PT usou as redes sociais e seus contatos políticos junto a sindicatos e entidades do movimento social para evitar que essas críticas “pegassem” no imaginário popular de sua militância.
Os petistas conhecem bem o potencial eleitoral do tema, explorado à exaustão pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha pela reeleição, em 2006, e depois pela própria Dilma Rousseff na campanha de 2010.
Desta vez, porém, o pacote de concessões do governo federal é mais ambicioso, e exigirá um esforço extra para neutralizar o provável desgaste político.
Par dar conta do desafio, emissários da sigla já voltaram a procurar seus contatos no mundo sindical. Eles também pedem para que, na medida do possível, o governo federal inclua representantes dos trabalhadores nas negociações em curso.
Enquanto isso, a Esplanada dos Ministérios faz os últimos retoques no modelo de concessão para rodovias, aeroportos, energia, portos e ferrovias.
Realizadas majoritariamente durante o governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), as privatizações serviram para moldar o discurso da esquerda brasileira contra a iniciativa.
Apesar dos sinais de preocupação, petistas avaliam que esse debate tende a ter pouco efeito na agenda eleitoral municipal, mas pode ser perigoso em períodos de sucessão presidencial.
Na corrida de 2010, por exemplo, Dilma chegou a ter de explicar algumas das privatizações da era Lula, embora menos relevantes que a de seu antecessor tucano.