Confira a íntegra da entrevista de José Serra para a Revista São Paulo da Folha de SP:
José Serra iniciou o ano sem pensar em ser prefeito. Porém, a possível união entre o afilhado político Gilberto Kassab (PSD) e o PT fez o tucano mudar de ideia. Aos 70 anos, ele concorrerá pela quarta vez à prefeitura da cidade onde nasceu.
O economista perdeu em 1988 e em 1996 e venceu em 2004, deixando para trás Marta Suplicy (PT). Durante essa campanha, assinou documento da Folha comprometendo-se a permanecer na administração da capital por quatro anos. Ficou 454 dias e saiu, em 2006, para se candidatar ao governo do Estado. Ganhou a disputa e, a nove meses do término do mandato, em 2010, deixou o Palácio dos Bandeirantes para concorrer à eleição presidencial.
Agora, promete ir até o fim. “Desejo governar até 2016”, afirmou o candidato, em entrevista concedida por e-mail. E o sonho de ser presidente? “Estou focado em meu único desejo neste momento, que é ser prefeito.” Se vencer, Serra, morador do Alto de Pinheiros, zona oeste, promete uma gestão “inovadora”.
raio-x
FORMAÇÃO: economia, com mestrado na Universidade do Chile e doutorado na Universidade Cornell, nos EUA
FILIAÇÃO: PSDB (ex-PMDB)
CARGOS PÚBLICOS: governador (2007-2010), prefeito (2005-2006), ministro da Saúde (1998-2002), ministro do Planejamento (1995-1996), senador e deputado
ANTES DA POLÍTICA: presidiu a UNE de 1963 a 1964
PESQUISA DATAFOLHA: em seu melhor cenário, está em 1º lugar, com 49% dos votos
Quais são suas recordações de infância e juventude na capital?
Minhas recordações combinam cenas de escola, chaminés de fábricas, operários, futebol de várzea e o Mercado Municipal, onde meu pai e meu avô trabalhavam. Morávamos numa vila operária na Mooca. Ainda existe. O grande personagem do transporte era o bonde.
O que mais o agrada na cidade?
O jeitão paulistano. As pessoas sem medo de enfrentar os desafios do dia a dia. A diversidade. A capacidade de trabalho e de acolher gente de fora.
E o que mais o incomoda?
O pessimismo de conveniência a respeito do futuro. No dia a dia, o que mais me chateia é o trânsito.
Como se locomove em São Paulo?
De carro.
Utiliza algum serviço público?
Estudei em escolas públicas em toda a minha formação e já fui atendido em unidades de saúde pública.
Se ganhar, vai recorrer ao helicóptero para se locomover?
Quando for necessário, para que as horas do dia do prefeito sejam aproveitadas nas tarefas da cidade.
Há algum projeto de outra cidade que pode ser adotado aqui?
Quando fui prefeito, fiz o Mãe Paulistana aproveitando a experiência de Curitiba. A ideia do museu Catavento veio do Papalote do México. Temos coisas para exportar também, como o Museu do Futebol. Visitei o Museu do Real Madrid e pensei: vamos fazer um melhor, interativo. Aliás, um exemplo do exterior que poderemos aproveitar é o da limpeza e da coleta seletiva do lixo de Madri.
Derrubaria o Minhocão?
Não gosto do Minhocão, mas não dá para derrubá-lo a curto ou médio prazo sem criar problemas. Tem muita coisa a fazer antes disso. É possível, sim, melhorar seu entorno, cada vez mais.
A cracolândia tem solução?
Já existem 29 grandes cracolândias em 17 capitais. Todas são itinerantes e vão se movimentando segundo o ritmo das incursões policiais e brigas entre traficantes. Eu acho que tem, sim, solução. O problema maior é controlar a entrada da droga no país. São Paulo produz laranja, cana, soja, mas não cocaína.
Se eleito, pretende manter as subprefeituras com funções de zeladoria e sob o comando de coronéis?
Se é coronel, advogado, ex-prefeito ou metalúrgico, não é determinante. Fator determinante é a pessoa ser competente e trabalhadora. Quando cheguei à prefeitura em 2005, encontrei as subprefeituras desmoralizadas, loteadas pelo PT.
Quando governador, o sr. iniciou a ampliação da marginal Tietê. Mas a via continua saturada.
Se a gente não tivesse feito a ampliação, imagine como o trânsito estaria. Uma cidade que recebe 700 novos carros por dia exige obras. Tenho a obsessão de ajudar o sistema de metrô e trens, mas o sistema viário também tem de melhorar.
Quem foi o melhor prefeito de SP?
Não tenho capacidade para avaliar isso. A cidade teve bons e maus prefeitos.
E o pior?
O distanciamento e a história é que vão ajudar no julgamento.
Como avalia a gestão Kassab?
A atual prefeitura fez muita coisa boa. Ampliou o sistema de saúde, melhorou a educação, tem ação importante na urbanização de favelas, deu dinheiro para a expansão do metrô, fez o Cidade Limpa.
Leis como a do Psiu podem tirar a vocação boêmia da cidade?
Não acho. São Paulo tem de conviver com os boêmios e com os que querem dormir. Dá pra fazer as duas coisas.
Tem medo de São Paulo passar vergonha na Copa?
Não. Por que passaria? E tem mais: se depender de mim, como prefeito, vamos fazer uma Copa belíssima.
Se eleito, qual será a sua marca?
Não tenho medo de enfrentar problemas nem de procurar soluções. Se eleito, serei um prefeito inovador. Vamos enfrentar os desafios com novas abordagens. São Paulo é cosmopolita, com gente que gosta de andar à frente do seu tempo.
O que não vai faltar no gabinete?
Trabalho até bem tarde. Tem de ter sanduíche de queijo branco com tomate.
Ainda quer ser presidente do Brasil?
Quando tenho um objetivo, sou obstinado. Estou focado em ser prefeito de São Paulo. É a nação que desejo governar até 2016.
Bela entrevista, não de um administrador público, mas sim, de um Estadista que está adiante de seu tempo