Nos últimos anos, vimos um abandono lento do tripé econômico, que manteve a estabilidade, ao estabelecer a meta de inflação de 4,5%; superávit primário forte e câmbio flutuante. A presidente Dilma não está certa, portanto, ao dizer, em resposta à ex-senadora Marina Silva, que o tripé foi mantido.
Temos visto uma tolerância muito maior com a inflação alta. No governo Dilma, não se atingirá o centro da meta de 4,5%, segundo previsão do próprio BC. Nesses anos, o IPCA ficou abaixo de 6,5% ou exatamente nesse patamar. Está dentro do intervalo de tolerância, mas não podemos esquecer que a nossa meta já é muito alta.
Ou seja, o governo Dilma não cumpriu a meta de 4,5% e passou dez meses do seu período com a inflação em 12 meses acima do teto – chegou até a 7,3%.
A equipe econômica tinha um discurso de que um pouco mais de inflação não teria problema. Um assessor do ministro Mantega chegou a dar uma declaração dizendo que a inflação não deveria ficar abaixo de 6%. Passaram a considerar 6,5% como meta, quando é o máximo de tolerância permitida de desvio da meta.
Outra questão foi a redução do superávit primário. Nos anos em que o país não cresce, ele pode ser reduzido para se fazer política contracíclica (quando se gasta mais para retomar o crescimento, e não deixar a economia entrar em recessão). Só que o governo, além de ter reduzido o superávit primário, alterou a fórmula de cálculo. Ninguém mais acredita no número depois de tantos truques. Agora, diz que vai mudar a política de superávit primário, fazer uma espécie de banda. Está tentando restaurar a credibilidade desse indicador.
Nos últimos anos, outros indicadores da área fiscal pioraram, como o da dívida bruta, que estava em 53% do PIB em dezembro de 2010, e agora, em 59%, por conta das transferências ao BNDES. E o governo já anunciou que isso também vai mudar – percebeu que os críticos tinham razão.
Nesse momento, está acontecendo uma tentativa de reconstrução da credibilidade nos indicadores fiscais, atendendo às críticas feitas. Porque tudo isso estava tornando mais fracas as bases da estabilização.
O BC fez muitas intervenções no câmbio – algumas fizeram sentido; outras, não. Esse ponto, no entanto, é o menos preocupante, porque não chega a comprometer o câmbio flutuante, o terceiro pé do tripé.
Mas no governo Dilma houve tolerância maior com uma inflação alta por muito tempo e a erosão da base fiscal. Tanto que estão tentando reconstruir a confiança nesse momento “inicial” da campanha política, já antecipada. Só para lembrar: perguntada ontem sobre esse assunto, a presidente Dilma disse: “meus queridos, jamais foi abandonado o tripé macroecônomico”. Quando ela fala “meus queridos”, é porque não gostou da pergunta.